Direção

Fernando Henriques Gonçalves

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Número 11 - Auto de São Lourenço dos índios

Capela construída pelos Temiminós

Ano do nascimento de Nosso Senhor
Jesus Cristo de mil quinhentos e setenta e
três aos vinte e dois dias do mês de novembro
do dito ano, neste monte declarado
doravante de São Lourenço, bem do agrado
de Araribóia, feito, digo, de Martim Afonso –
o Araribóia, feito Cavaleiro
da Ordem de Cristo, tendo o Excelso Mem de Sá
deferido com todo gosto a petição
de uma parte das ‘bandas d’além’ da baía
de São Sebastião do Rio de Janeiro
uma légua rente ao mar
e duas para o sertão,
em abono dos votos para que folgasse
de na terra ficar para a favorecer
com toda a sua gente e fé temiminós,
o mui leal brasílico, nobre entre os seus,
faz sua, sob o juramento de ficar
com seus mandados, esta terra, sob as bênçãos
de São Lourenço, para a amar e povoar.


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25 anos do Ilac
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Na data de hoje, há vinte e cinco anos, fundava-se em solenidade no Centro Cultural Cândido Mendes, em seu auditório na Rua da Assembléia, Rio, o Instituto Latino-Americano de Cultura, que entre outras iniciativas lhe coube patrocinar, juntamente com a Associação de Professores de Espanhol, o ensino obrigatório da Língua Espanhola nos colégios fluminenses, medida que não tardou a ser estendida a todo o território nacional, por decreto federal, por Itamar Franco quando presidente da Republica, seguindo orientação do Estado do Rio de Janeiro.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Número 10 - Sierra Maestra se mantém de pé



Reformas de base sem a transparência ao estilo dos regimes capitalistas - a fim de evitar interpretações ao revés da realidade cubana - estão sendo postas em prática pelo governo de Raúl Castro, segundo fontes de Havana.

De acordo com essas fontes, as mudanças na arquitetura sócio-econômica da ilha atendem ao tônus evolucionista inerente à Revolução de Sierra Maestra, em estreita sintonia com os princípios filosóficos do movimento irrompido a 1º de janeiro de 1959, com a destituição, do poder, de Fulgéncio Batista, reconhecidamente um escroque apoiado em mafiosos internacionais que exploravam cassinos no Caribe à vista grossa dos Estados Unidos da América e da Grã Bretanha. A nova meta é impulsada no sentido de que as dimensões da ilha de Raúl e Fidel possam dar passagem sem declives às reformas, dimensões historicamente já reduzidas em razão das terras escamoteadas em Guantánamo, onde o governo estadunidense, ainda em seu passado sombrio, erigiu uma base aeronaval à revelia da OEA, Organização dos Estados Americanos, e muito menos das Nações Unidas. Em Guantánamo, que serviu quantas vezes de prisão política, e ainda serve, se desenhou um cenário de terror frente ao qual estaria perdendo longe a Al Qaeda à ótica dos países que se presumem livres, civilizados, humanitários... Os direitos do Homem não são respeitados é por estes países. Veja-se o caso dos Estados Unidos, que até hoje aplicam suas diabólicas, desumanas sanções econômicas a Cuba sem se importarem como vivem os cubanos, há décadas em dificuldades impostas de fora da ilha... E posam de bons mocinhos, indiferentes, em verdade, a uma situação de lesa-Humanidade cuja culpa recai exatamente sobre os autobeneficiários da doutrina xenófoba do “Destino Manifesto”, ou seja, a doutrina que pregam com acordes religiosos da mãe Inglaterra a pretensa hegemonia do homo americanus sobre todas as demais etnias ou criaturas humanas.

plis plas

· De sete americanos, um, pelo menos, é pobre.

· Em Andaluzía, a Corte Suprema deliberou pela quitação de uma ‘dívida moral’ com as mulheres vítimas do franquismo, estabelecendo que cada uma delas receba uma indenização de 1.800 euros, a ser paga de uma só vez.

· Somente na província de Sevilha, em torno de 400 mulheres, entre mães, esposas, filhas e irmãs, foram assassinadas após torturas e outras humilhações.

· Franquistas serviam-se das que lhes agradavam, passavam a máquina zero pelas suas cabeças, como fizeram os nazis com as judias na II Guerra Mundial, e as obrigavam a tomar óleo de rícino.

· Em 1936 os ventos de esquerda sopram na Espanha. Manuel Azaña elege-se presidente. Brigadas internacionais totalizando em números estimativos 60 mil homens dão suporte ao governo, então apoiado pela União Soviética. Logo, porém, rebelam-se os militares rumo à direita, estendendo o tapete ao general Francisco Franco.

· A Guerra Civil Espanhola vai até 1939.

· Embora já se respirasse a Paz, muitos dos ex-combatentes do lado daqueles mares ibéricos saíram à procura de outros países.

· Foi assim que um relojoeiro acidental, Augusto Camoeiras, nascido no Nordeste brasileiro e levado ainda muito pequeno para a Espanha, onde foi criado por pessoas de sua família, de origem espanhola, chega ao Rio de Janeiro.

· Como estava na idade de servir o Exército, apresenta-se numa Circunscrição Militar e falando o Espanhol. Quem o recebe é o general e historiador Nelson Werneck Sodré, não sem estranhar por que, para Sodré na ocasião, quem falava tão fluentemente o Espanhol o normal seria servir em sua terra...

· Ao saber que o relojoeiro viera das cinzas da Guerra Civil Espanhola, Nelson Werneck Sodré, já falecido, ajeita-se na cadeira: “Quer dizer que o senhor não gostou muito do Franco, não é verdade?

· Passa-se um tempo, o agora solteirão e patriarca desgarrado de seus familiares Augusto Camoeiras se une a Maria Eugênia Kemp Muller, neta do poeta e político Nelson Kemp, que colaborava com um soneto por domingo no jornal A Paz, de Nova Friburgo.

· Os principais assessores de Barack Obama na área econômica devem cair antes das eleições legislativas de novembro. São eles: Peter Orzack, Rahm Emanuel, que vai disputar a Prefeitura de Chicago, e Tim Geithner, Secretário de Tesouro. Larry Summers, um dos pesos-pesados da assessoria econômica do presidente, já arrumou as malas.

· Resta saber se Obama conseguirá segurar em plenário, na nova legislatura, os votos democratas de que tanto precisa para governar sem maiores atropelos.

· Isto, se partir mesmo para um novo mandato, como é tradição na política de gansos do Capitólio.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Número 9 - Cuidado para não votar no Capitão América!

Mandrake está por perto...

Você que não costuma faltar a uma eleição, zeloso do dever cívico de dar seu voto direto a quem lhe parecer honrado e justo para representá-lo na Presidência da República, no Parlamento, nas Câmaras dos Estados, dos Municípios, na Câmara Federal, numa das Prefeituras Municipais, não se precipite na escolha. Faça antes de tudo criteriosa reflexão sobre os candidatos que desfilam pelos jornais, o rádio, a tevê, pela Internet e através dos ‘santinhos’ espalhados de mão em mão nos shoppings, em praça pública, por toda parte, em busca da conciliação da propaganda, por exemplo, comercial com a política partidária personalizada. Candidatos em suas caminhadas pelo calçadão de praias... A propaganda eleitoral a passar de bicicletas, de carros esporte e a pé, no homem-sanduiche, valendo tudo nos limites da lei eleitoral, diante da qual transitam no entanto, desapercebidas, velhas personagens de historietas em quadrinhos. Uma delas: o Capitão América, sempre presente a eleições, de preferência na América Latina.
É bom não esquecer também de um emérito ilusionista que é Mandrake. Como o Capitão América é muito conhecido cá por nossas paragens, se algum de vocês - partidários de Tiradentes esbarrar em Mandrake numa esquina já se preparando para entrar em ação, não perca tempo em tirar-lhe imediatamente a cartola, que é o que lhe dá o poder do ilusionismo. Ele é capaz de produzir eleitores para votarem no Capitão América em quantidades que vocês nem imaginam.
Barbosa Lima Sobrinho, que foi por vários mandatos presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), tendo feito, anteriormente, brilhante carreira política voltada em especial para o Nordeste brasileiro, sempre dizia que o Brasil tinha, a rigor, dois partidos políticos: o Partido de Tiradentes e o de Joaquim Silvério dos Reis. O primeiro, dizia ele, empunha a bandeira do Nacionalismo, enquanto o outro esmera-se na traição à Pátria. Barbosa Lima Sobrinho não se cansava de abrir espaço às forças nacionalistas, contra as entreguistas, quais sejam as privativistas. E entreguismo ou privativismo em alta escala, em suma, não significa outra coisa senão entregar o país ao capital transnacional. Muito cuidado, pois, com o homem que voa levando a bandeira americana no peito para refleti-la nas urnas do Brasil, este gigante que pensam estar adormecido.


quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Número 8 - Hélio Costa denuncia o tucanato


O ex-ministro das Comunicações do Governo Lula, Hélio Costa, que iniciou sua carreira política fazendo-se leal porta-voz de Tancredo Neves, acompanhando-o até a morte trágica daquele presidente - eleito pelo voto indireto de um Colégio Eleitoral sem que chegasse a tomar posse –participou de uma sabatina nesta quarta-feira, 11 de setembro de 2010, da Folha de S. Paulo com o provedor Uol, em que tece seguidas e duras críticas ao tucanato. Começa indagando para si mesmo: “Quem vendeu a mais poderosa empresa mineira de todos os tempos, a Vale do Rio Doce?”. E ele, na ponta da língua: “Foi o governo tucano”.
Hélio Costa deu a entender que o passado, ao contrário do que disse um dia o ex-presidente Cardoso, sempre fará parte da História. Anunciou o seu plano de criação de uma “bancada do minério no Congresso para revisão da tributação e dos royalties pagos por mineradoras”. O ex-ministro, por outro lado, denunciou “um lobby para privatização de mais uma estatal, os Correios”
A propósito da posição de Hélio Costa face às próximas eleições presidenciais, nunca será demais trazer até nós, a qualquer tempo, o “passado histórico” de FHC. A partir de quando era ele ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco e que, por uma penada, entregava à iniciativa privada a Companhia Siderúrgica Nacional, a primeira jóia da coroa então privatizada sob protestos veementes dos operários daquela empresa de que tanto se orgulhava Getúlio Vargas. Nessa ocasião, morre um operário em confronto com a polícia.
Ao se despedir do Senado a fim de assumir a curul presidencial bateu no peito dizendo que a era Vargas estava se finando. Já na cadeira presidencial, passa a investir, desvairado, sobre a iniciativa estatal, praticamente zerando-a. (No blog A História no Jornal, vejam, comparativamente, quanto foi apurado com as privatizações da era Cardoso e quanto evaporou-se do caixa do governo”.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Número 7 - A Língua Envergonhada - Edição de agosto de 2010


A Língua Envergonhada

Autor de Estrela do céu perdido, O ballet das palavras, de jornal em jornal, e de outras obras, prosa e poesia, Lago Burnett firmou-se no jornalismo como um dos maiores e mais atentos copydesks que conheci. Os seus conhecimentos da língua portuguesa e, bem assim, de redação de jornal o credenciaram às funções de copy do Jornal do Brasil em sua fase mais alta, ao tempo de Alberto Dines como seu editor-chefe.
A obra principal de Burnett talvez seja A Língua Envergonhada, por estar voltada não apenas aos cursos de jornalismo como, ainda, aos já militantes da imprensa, aos professores e alunos, como suporte de aperfeiçoamento sem cair no pedantismo, em vícios de linguagem.
A mudança da capital, do Rio de Janeiro para Brasília, originou profundas transformações nas duas cidades separadas pela Baía de Guanabara, consolidando-se Niterói na condição, pode-se dizer, de cidade universitária, e a antiga Velha Província acomodando-se no interior fluminense; as sucursais dos jornais cariocas se retirando de Niterói e a imprensa niteroiense reduzindo-se a dois jornais diários.
Lago Burnett abre seu livro com uma triste e dura verdade: “O brasileiro não suporta a sua língua. Se lhe fosse permitido escolher, preferiria qualquer outro idioma, até mesmo o sânscrito, o latim, o hebraico, o lídiche, o patoá, o banto”.
Sublinha que “por força do colonialismo cultural, acentuado pela linguagem mercadológica dos veículos de comunicação, de muito bom grado a opção brasileira recairia sobre o inglês – não de Oxford, mas o da Praça Mauá. E que coramos de pudor criando situações embaraçosas para nós próprios toda vez que não conseguimos atinar de público com o significado de uma expressão anglo-saxônica e nos mortificamos de despeito, por não conseguir escrever com sotaque novaiorquino uma ode olímpica à alienação de Ipanema. Não por veneração ao reverenciado idioma de Shakespeare, mas por mera subserviência ao sentimento mercantil do multinacionalismo lingüístico”. A Língua Envergonhada é uma edição, a 2ª, da Coleção Comunicação Social, merecendo nova edição, por manter-se bem atual. Com prefácio de Luiz Carlos de Oliveira, que ressalta o pioneirismo do Autor, “ferrenho defensor da integridade da palavra e garimpador do vocábulo exato – no levantamento de questões relativas ao exercício da profissão de jornalista e ao ensino da Comunicação Social”.
O professor e acadêmico Paulo de Almeida Campos, filologista de aguda percepção, publicava em 1987 A Nova Língua dos Brasileiros? – que José Cândido de Carvalho, autor de O Coronel e o Lobisomem, acolheu observando que “a presença cada vez mais, avassaladora, de termos e expressões da língua inglesa na imprensa e na televisão aqui introduzidos por via norte-americana, num constante processo de aculturação”, encontrou quem lhe opusesse a resistência de um “Marco Pólo de nossa cultura”. Sem papas na língua, aquele romancista disse que Paulo de Almeida Campos “caçou a porrete nas letras redondas dos jornais brasileiros nada menos de oitocentas palavras e expressões inglesas”. A esta altura, com a contribuição de canais de tevê e de internautas, devem ter triplicado. Chega-se a pensar em Carmen Miranda a saracotear nos Estados Unidos com aquela baita de uma fruteira sobre a cabeça, a entoar uns versos de cujo sabor se deliciava o americano: “Yes, we have banana... banana to give and sell...” Foi quando lá pelas Caraíbas, nos idos da década de 30, começava a prosperar o “trust” das bananas, carro-chefe da multinacional United Fruit Company. Antes de Fidel, claro.

domingo, 27 de junho de 2010

Número 6 - A política do terror


Os Estados Unidos se livram, ou acreditam ter-se livrado, da carga israelita praticamente colocada sobre seus ombros por um eminente brasileiro quando na presidência da ONU: Oswaldo Aranha, principal articulador da criação do Estado de Israel. Sem imaginar, quer-se crer, que esta sua iniciativa pudesse um dia servir para empurrar o povo palestino para a clandestinidade e ações armadas, suicidas por algum tempo, e, em conseqüência disso, provocar-lhe a ira contra o sionismo. Se é que os ventos vão continuar soprando a favor de Israel, por mais um largo período, a compartilhar com os Estados Unidos a crença no “destino manifesto”, uma antiga deformação-religiosa que acompanha os americanos do Norte desde quando seus primeiros agricultores expulsaram de suas terras, armados de foices, ancinhos, enxadas e arados, os ingleses invasores.
O “destino manifesto” fez com que George Bush, pai e George Bush, filho estufassem o peito, em seus respectivos mandatos presidenciais perante o mundo. Escaparam, diga-se de passagem, de ser soterrados pelos destroços do Muro de Berlim, que cai antes da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, esta, por traições internas e pela infiltração de agentes secretos recrutados pela CIA em vários países e não apenas em Norteamérica a fim de atuarem ao estilo, para citar um só exemplo, da “missão 48”, que sediada no Chile cobria ou ainda cobre a América Latina e, às vezes, também outras regiões em que se faça necessário deslocar-se, com outro nome. Em 1980, um desses serviços opacos fez explosões em linhas e estações ferroviárias de Bolonha, Itália, semelhantes às de Londres e Madri. Foram efetuadas prisões fantasiosas. Um dos detidos, ‘por engano’, sob interrogatório numa sala de polícia, recorreu à evasiva de que estava a serviço do “comunismo internacional”. Soltam-no, e a fantasia comunista se desfaz qual bola de sabão. Ele e seus comparsas eram, pois, agentes secretos de um dos aparelhos de terror estadunidenses. Quanto ao 11 de Setembro de 2001, a culpa da tragédia recaiu em montanheses islâmicos, apontado como cérebro das explosões em Washingtom e Nova York Osama Bin Ladden, o qual somente os Estados Unidos devem saber onde se encontra, se não lhe deram sumiço tático como justificativa para o desencadeamento de uma série de operações da mais alta tecnologia belicista, como as chuvas de mísseis sobre Bagdá, seguidas de covarde execução, na forca, de Sadam Hussein.
A propósito de um novo século, recorda-se que logo após George W. Bush ter assumido a Casa Branca, o então presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso não perdeu a oportunidade de dirigir-lhe saudação politicamente cordial em que ressaltava: “Todos juntos poderemos efetivamente fazer deste o “Século das Américas”.
Estávamos precisamente no ano 2000. Os generais do Pentágono já roíam as unhas, à espera, a cada minuto que passava como arrastando-se pelos últimos dias do World Trade Center, da hora de apresentar ao mundo o seu argumento a la Francis Fukuyama pelo qual os Estados Unidos da América pretendiam comprovar aos quatro ventos o seu arcabouço hegemônico, invencível.
Pretendiam, mas a História continuou.
Separando-se as peças do “rompecabezas”, assim entendido pelo pesquisador argentino Horácio Garetto, temos um saldo de 5 suicidas ressurrectos São eles:
Abdulazis Alomari, Mohand Alcehehri, Saaed Alglandi, Salem Athazmi e Waleed Alsheri. Estes personagens islâmicos pelo menos até dias após a derrubada das Torres Gêmeas do imponente complexo de edifícios do WTC estavam vivos, segundo fontes idôneas.
Quanto a Osama Bin Laden, que muitos supõem esteja sendo procurado até hoje, provavelmente já curado de uma infecção renal, sabe-se que, pelo que noticiara o parisiense Le Figaro, após ter ficado um mês e alguns dias internado em um hospital de Dubai, aos cuidados do governo ameriacno, submeteu-se a uma revisão médica no Paquistão. Isto, em 12 de setembro de 2001. Anteriormente, ainda sob céu de brigadeiro na nova Babilônia, hoje Iraque, o general Colin Powell, que encaminhara Bin Laden a dois hospitais militares de bandeira estadunidense no Oriente Médio, entra em negociações com o governo paquistanês para extradição do suposto mentor das ações terroristas.
Organizações aparentemente pacifistas como a NED – The National Endowment for Democracy (Fundação Nacional pela Democracia), criada no governo do presidente Ronald Reagan, tiveram participação ativa na trama, conforme documento distribuído à imprensa por estudiosos do sistema da rede “stay-behind”.
Por tudo isso, os Estados Unidos ocupam-se em fortalecer suas defesas e alargar suas ambições territoriais; ao mesmo tempo, em opor obstáculos a programas nucleares de outros países, entre os quais, naturalmente, não está incluído o seu aliado Israel. . .São os mesmos Estados Unidos que, de olho no petróleo árabe, vê-se agora às voltas com o vazamento de uns dez mil barris diários, de uma petroleira britânica em águas do Golfo do México e já ameaçando alcançar o Atlântico, com prejuízos incalculáveis, inclusive, à flora e à fauna da região.
Lembro-me de que lá pelos anos 50, como crítico, ou comentarista, de livros, recebera uma novela instigante, escrita a quatro mãos, por dois soviéticos. O volume, magricela mas de grande profundidade e conteúdo humano – pena que se tenha perdido no remoinho dos anos 60-70 aqui no Brasil (bem que poderia chamar-se A Revolta da Natureza) mantém-se atualíssimo pela dor dos caules, das folhas, das raízes das florestas maltratadas ou, o que é infinitamente pior, devastadas.
As perdas florestais não diferem muito das perdas humanas resultantes de conflitos étnicos, políticos e econômicos, em especial no Oriente Médio. A isto se junta a crise contextual e até certo ponto financeira, e moral, dos Estados Unidos, suas escotilhas já não mais suportando a força das águas.
Recua-se a 26 de março de 2003. Cabe transcrever alguns trechos do que publicava nesse dia a revista Veja em edição especial: ...”Os anos 90 apresentaram ao mundo os primeiros ensaios da guerra pós-moderna, cirúrgica, altamente tecnológica e, por isso, precisa, coberta ao vivo pela televisão, para bilhões de pessoas, que assistem a ela como a um espetáculo que, para variar, não é de ficção. A dura realidade é o que entra na sala dos espectadores do mundo inteiro.(...) “Milhões de espectadores espalhados pelo planeta viram o presidente Bush avisar ao vivo que estava iniciando a guerra. Em um canal de TV, ele já estava focalizado antes de começar seu discurso, enquanto seu cabelo era penteado para aparecer em seu melhor estado diante das câmeras. Horas mais tarde viu-se Sadam Hussein jurar resistir até a morte ao Exército invasor”...
Dias antes de invadir a terra dos talibães, o Afeganistão, e de deflagrar a Operação parabíblica Tempestade no Deserto, o presidente George W. Bush se antecipou em contar para o mundo que Deus se aproximara dele com as seguintes palavras: “George, vá adiante e entre com o seu Exército no Iraque!” Não é anedota. Em pouco, caía Babilônia...
Já no patíbulo e com os olhos desvendados pelo próprio condenado, a mirar longamente seu carrasco de fita bang-bang, Sadam decerto olharia também de frente, em meio a sua última oração, nos olhos de George Bush. Longe das câmeras.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Número 5 - A pequena guerra da secessão

Phoenix, sede do Condado de Maricopa, no Estado do Arizona, tem sido palco de grandes manifestações de protesto contra nova lei de imigração, considerada altamente discriminatória a milhares e milhares de hispanos que lá vivem em constante sobressalto, notadamente aqueles de origem mexicana. A segunda marcha pelos direitos civis no Arizona, realizada em fins de maio (2010) reuniu em torno de 25 mil pessoas, a grande maioria hispanos. Mas vale notar a participação, também, embora em pequeno número, de gente de cor branca, como um homem de origem germânica, cujos filhos puxaram à mãe, nascida no México. Dados estatísticos do Pew Hispanic Center, colhidos recentemente, indicaram um número de 460 mil imigrantes em situação irregular em todo o Arizona.
Funcionários do setor de imigração do Condado de Maricopa “costumam bater à porta de qualquer residente na esperança de surpreender alguém irregular e quase sempre a porta não se abre para eles”, disse uma mulher, “acrescentando: “Fica-se no quintal quem tem quintal ou até debaixo da cama, esperando a hora do carro da imigração rosnar com o pé do motorista no acelerador”.
Sem que se faça anunciar, uma vez e outra quem aparece num relâmpago pelo buraco da fechadura... quem? Nem mais nem menos do que... o sherife!! O sherife Joe Arpaio, tido na região como “el terror en persona”, nas palavras de uma moça cujos olhos se arregalam sempre que ouve falar o nome dele.
Os métodos empregados por Joe, pelo testemunho de alguns hispanos, raiam à brutalidade se a pessoa por ele abordada demorar-se na busca de papéis que a inocentem como achando-se legalmente nesse pedaço de chão dos Estados Unidos. “El terror” do Arizona, que teria sido alçado, ao parecer, das brumas do Velho Oeste nas fitas de bang-bang já bateu aos ouvidos do presidente Barack Obama, o qual se comprometeu com o seu par mexicano Felipe Calderón a gestionar junto ao Congresso visando à edição de uma lei nacional de imigração.
Assim é o Arizona hoje, distante de Washington e tão perto do México, do qual foi conquistado a ferro e fogo pelos Estados Unidos, a lembrar, de passagem, a bolorenta Guerra de Secessão, que pretendia o que é a América de nossos dias: uma colossal colcha de retalhos a que não falta o sherife Joe Arpaio - a rodar seus revólveres no Condado de Maricopa. Só não há cavalos aos trotes pelas ruas, sinal de que o progresso se prenuncia...

Robert Taylor
Canção da Rússia

Preso ou prisioneiro de consciência é aquele que por algum motivo não gravíssimo, assim entendido do lado da neutralidade, cumpre pena imposta pela Justiça de determinado país, consideradas ou respeitadas as leis de cada um, no marco do Direito Internacional. Não se trata de preso comum, mas de alguém que tenha infringido leis do país em que se encontre. Possa ser um prisioneiro político, seja qual for sua ideologia, não se lhe negue o direito de defender-se, havendo para isso, inclusive, o organismo não-governamental Anistia Internacional, e contanto que, uma vez libertado, não retorne a atividades atentatórias ao regime sob o qual esteve cumprindo pena. A única exceção, nesta circunstância, seria a eventualidade de o país em questão houver mergulhado numa guerra civil ou entrado em clima de profundas, radicais transformações.
Não é o caso de Cuba, com menos de 20 presos reconhecidamente políticos, ainda que ativistas do anticastrismo dêem divulgação, ardilosa, da existência de uns 200 em toda a ilha. Um dos que se encontram presos em Havana e em vias de ser libertado, segundo informação de um ativista em reportagem no periódico El País, sofre de polineuropatia, que por sinal também eu tenho, o que não me impede de trabalhar em computação. Dêem-lhe, portanto, uma atividade não-delituosa e ele se sentirá bem melhor. Em relação às centenas há pouco mencionadas, andam por Miami muito mais que isto - há anos à espreita de uma oportunidade de reeditar a fracassada invasão pela ‘Bahia de los Cochinos’. Resta-lhes, pois, juntarem-se em Norteamérica aos demais anticastristas que lá enfrentam trabalho ao qual, na maioria dos casos, não estão acostumados, além do problema de acomodação, amontoando-se duas, três famílias em um quarto-sala, onde mal caberia uma.
Outra distração ou lenitivo para casos como o meu e do prisioneiro de consciência em Havana - polineuropatia – seria deixá-lo por algumas horas em canaviais cubanos, a cortar cana, como fizeram, tempos atrás, muitos intelectuais e estudantes brasileiros, por livre e espontânea vontade, no propósito único de ajudarem a Revolução em sua marcha batida.
Em Cuba, esperam pelo momento favorável a fim de se lançarem ao mar com os seus já dir-se-ia lendários botes, se bem que, para os irmãos Castro, a Revolução cubana agradeceria penhoradamente se todos os anticastristas ainda na ilha fossem para outros mares, como, aliás, ocorreu há muitos anos, quando Fidel chegou a oferecer um punhado deles ao governo americano e este se recusou a recebê-los, porque já havia cubanos demais na “terra da liberdade”, a liberdade feita estátua, en passant, pelos franceses.
Eram descendentes, por assim dizer, de Fulgencio Batista e amigos mafiosos que freqüentavam, em seus dourados anos, o hotel de Havana, e alguns, por curiosidade ou não, “la Calle de las Virtudes, ao lado de astros e estrelas de Hollywood, um deles Robert Taylor, que acusado de comunista do celulóide ao divisar-se a Guerra Fria por ter contracenado com uma soviética, Bárbara Stanwyck, na co-produção cinematográfica então de boas vindas A Canção da Rússia, e de políticos como Winston Churchill e seu proverbial charuto - quando a jogatina campeava até apagar-se o havana de Churchill e dos primeiros raios de sol a riscarem no horizonte de Cuba.
A Canção da Rússia data de 1946 e logo o senador Joseph McCarthy se punha a denunciar meio mundo de agentes de Moscou. Robert Taylor, um destes agentes segundo McCarthy, bombardeado de perguntas na ‘Supreme Court’ sobre sua suposta participação em atividades subversivas, especialmente a respeito do filme A Canção da Rússia, atrapalhou-se, a tal ponto que acaba tirando o corpo fora da linha de uma saraivada de denúncias, até passar a dedurar não só companheiros de cinema como também de teatro e de outras artes. Para salvar sua pele... (Veja o que escreveu a corajosa dramaturga judia Líllian Hellman, falecida camareira de hotel em Nova York, sobre o macartismo, em seu livro A Caça às Bruxas.)


Hillary Clinton
Brasil repele truculência

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi enfático ao responder à persistência dos Estados Unidos da América nos ataques ao governo do Irã em razão do acordo nuclear firmado com a Turquia e patrocinado pelo Brasil.
O presidente brasileiro disse, textualmente, que “com truculência não se resolve nem os problemas de nossa própria casa”. Por sua vez, o presidente Barack Obama apressou-se a mandar um recado amistoso a Lula, reconhecendo-lhe o mérito de conduzir com firmeza problemas tanto nacionais como internacionais. Acrescentou estar consciente da força que o Brasil passou a ter no cenário mundial. Obama não mais apelou para chacotas do tipo “este é o Cara”, numa alusão a Lula, aparentemente lisonjeira mas pouco diplomática, ou seja, inconveniente.
Quase ao mesmo tempo, a Secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, fazia comentários maliciosos sobre o Brasil. Declarou que Brasil e Estados Unidos têm “sérias divergências” a respeito do Irã. A resposta não se fez esperar e da parte do ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim, que numa coletiva à imprensa em Nova York não mediu palavras de crítica à postura norte-americana face a questões do Oriente Médio e enfatizou a autonomia da diplomacia brasileira. Sobre a hipótese de o maior país do continente Sul das Américas vir a ocupar uma cadeira de membro permanente no Conselho de Segurança da ONU, o chanceler foi a fundo: “Se ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU é ter postura subserviente, o melhor a fazer é deixar (isso) pra lá”. Talvez quisesse dizer: “Deixa para um país que não se importar em abaixar a cabeça para os EUA